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Davi Calil e Gustavo Borges comenta sobre o futuro do mercado independente das HQ’s

O Artists’ Alley, da CCXP, reuniu mais de 300 artistas independentes nessa edição de 2016, mas não é só lá que a galera se esbarra. Na Bienal de Quadrinhos de Curitiba – que aconteceu entre os dias 8 e 11 de setembro no MuMA – podemos encontrar grandes ideias e artistas, novos e em ascensão, ansiosos para alcançarem um novo público, e neste evento se encontrava o celebre Davi Calil.

Pintor, quadrinista e ilustrador paulista, Davi Calil começou a carreira publicando histórias ilustradas em algumas revistas até criar a editora independente Dead Hamster Comics, onde lançou algumas de suas obras, entre elas “Quaisqualigundum” (com roteiro de Roger Cruz) e “Surubotron”. Ele também participou da colorização do álbum “Turma da Mata – Muralha”, da Graphic MSP, mas em julho de 2016, depois de 3 anos de muito trabalho, “Uma Noite em L’Enfer” chegou às livrarias em um acabamento de primeira e pelas mãos da Editora MINO. “Era um trabalho tão grande  merecia o cuidado de uma editora”.

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Calil desenha desde criança – aos nove anos ele começou a estudar num ateliê de Guararema (interior de São Paulo), onde teve contato com seus primeiros livros de pintura. Sua formação foi se moldando ano após ano, mas o traço amadureceu muito quando se dedicou aos quadrinhos e admitiu o próprio estilo.

“No começo os desenhos eram ruins de doer, mas aos poucos eles foram melhorando e quando me dei conta já estava trabalhando como ilustrador”.

Davi Calil

Ele contou com o apoio dos pais desde pequeno e, “quando algum trabalho meu saía em revistas e jornais, a preocupação da minha mãe de que eu ia morrer de fome ia embora. Parece que ser publicado ‘é de verdade’. Eu queria trilhar o caminho de publicar com uma editora e ver meu trabalho numa livraria – L’Enfer já ficou ao lado do Asimov e eu fiquei super feliz, esse é o tipo de experiência que você raramente tem quando publica de maneira independente.”

Num evento como a Bienal de Quadrinhos em que os artistas independentes são maioria, é normal se perguntar as diferenças práticas e subjetivas de ter o apoio de uma editora ou fazer tudo sozinho. Quando o trabalho fica inteiramente por conta do autor, muitas vezes ele não consegue explorar o entorno da obra por estar preocupado em escrever, ilustrar, revisar, finalizar, imprimir e colocar na mão de novos leitores.

“A maior parte das pessoas não é obcecada por pintura como eu sou, então L’Enfer tem vários easter eggs que podem passar batidos pelo público, mas quem está familiarizado com o universo da pintura vai reconhecer uma ou outra e se perguntar se tem mais”, explica o ilustrador. Muitos dos quadros da graphic novel fazem referências à grandes obras de Gauguin, Toulouse-Lautrec, Klimt, Van Gogh, entre outros, e a editora Mino criou painéis especiais para sinalizar algumas dessas pequenas homenagens. “Eu falei sobre isso na editora e eles se empolgaram em produzir esse material para divulgação de L’Enfer“.

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Gustavo Borges, autor de “Pétalas” (um dos projetos mais bem-sucedidos do Catarse), comentou em uma das mesas promovidas pelo evento que acredita que o mercado de quadrinhos no Brasil ainda se limita a um ovo que vai quebrar a casca em breve para sair do nicho, e que talvez essa geração de artistas ainda precise lidar com muitas questões para conseguir espaço, mas a próxima já vai se posicionar num mercado mais maduro e com mais oportunidades.

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Ele acredita que, com o tempo, a impressão em papel vai se limitar a coisas mais relevantes e caprichosas, daquelas que o leitor quer colecionar. “Eu estou trabalhando numa web comic agora e meu plano é lançar essa história de maneira gratuita e deixá-la ao alcance de muito mais gente do que uma tiragem impressa iria. E se eu vier a imprimir essa história depois, a pessoa vai ler online, gostar e aí sim buscar a edição física como algo para colecionar, e não porque o único jeito de ter acesso a ela é comprando na livraria”, opina.

Como forma de complemento a essa visão das obras digitais, no posfácio de Luis Bueno para Uma Noite em L’Enfer a gente encontra um trecho em particular que fala sobre o otimismo vivido no final do século XIX com a expectativa de que a Revolução Industrial e a riqueza gerada a partir dela mudaria tudo, e que a tecnologia alcançaria patamares antes apenas imaginados. Isso se concretizou, de fato, mas a mesma tecnologia usada para construir pode ser usada para destruir e tivemos que enfrentar crises, duas guerras mundiais e ainda tocar a vida sob um clima de ameaça constante.

“O que a gente vive hoje, na virada do século XX, é muito parecido com aquela época, no sentido de apostar em algo que vai mudar tudo. Todo mundo achou que a internet resolveria os problemas do mundo: todos iriam se comunicar, se unir, se aproximar. Lógico que vieram muitas coisas boas disso, mas você também aumentou o discurso de ódio, a intolerância em todas as áreas, a exposição e etc”, complementa o artista.

Enquanto as grandes livrarias ainda separam um espaço modesto aos quadrinhos nacionais, já existem algumas lojas inteiramente dedicadas à venda de trabalhos independentes, autorais, diferentes – além, é claro, do apoio que os autores podem buscar na internet com leitores, blogueiros, youtubers e toda essa galera que consome, sim, Turma da Mônica, mas também outras obras tão legais quanto. Opções não faltam, nem para o leitor, nem para o autor.

Confira no video de Pintura Relâmpago com Davi Calil:

Para ver mais trabalhos do Davi da uma olhada no blog dele http://davicalil.blogspot.com.br!!

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